Crianças que buscam autonomia, mães de tendência controladora, uma combinação bombástica!

Quando escrevi esse texto, minha dupla dinâmica de garotos estava com 2 anos e meio, os famosos terrible two, ou a fase de birras, de adolescência dos bebês como costumam chamar, eu não sabia nada do que sei hoje sobre os perfis comportamentais e como conduzi-los, e devo confessar, que vivi alguns dias realmente desafiadores.

terrible two como lidar

Estamos ainda em quarentena e portanto temos ficado juntos 24h por dia (o que convenhamos, também é um agravante nessa fase de birras). Nesse período, surgiram alguns comportamentos padrão por aqui, um exemplo é a hora de fazer o leite, ou o “mamá” como eles chamam.


Eles gostam de participar do processo. Pedem colo e gostam de colocar a água na mamadeira, depois acrescentar o leite em pó e por fim misturar os 2.


Engraçado como foram aos poucos adicionando pequenos processos ao repertório deles. No início pediam somente para misturar o leite com a água. Depois passaram a pedir para colocar a água na mamadeira, posteriormente para acrescentar o leite. E agora pedem até para colocar a tampa na mamadeira (um tanto quanto difícil para 2 anos).

Acho bonitinho todo esse processo e vejo como forma de desenvolvimento. Acredito que estão treinando coordenação motora e aprendizagem cognitiva (pois contam as colheradas de leite em pó conosco, sabem a sequência dos itens). Por conta disso, sempre deixo participarem.

Só que, apesar de ter consciência de que o processo é benéfico para eles, existem momentos em que o ser humano que vos escreve tem pouquíssimo tempo para esse preparo do leite, normalmente no período da tarde, quando ele é feito em um intervalo curtíssimo de calls que preenchem o dia de quem está em Home Office nesse período. Existem outros momentos, normalmente no leite da noite, em que estou exausta e que falando com toda sinceridade, não tenho toda a paciência do mundo para esperá-los tentar colocar a tampa da mamadeira por 5 minutos e aí começa o stress.

Porque tem sido impossível explicar a eles que já participaram do processo, e que desta vez eu vou colocar a tampa na mamadeira porque estou cansada. Se algo não acontece exatamente como eles querem, eles começam a chorar, gritar, se jogam no chão, ou seja, presenciamos um típico acesso da tal fase de birras.


E aí entramos no processo de dúvida e angústia que deve ser comum a muitos pais.


Como proceder? Ceder, afinal não estão pedindo nada que seja perigoso ou errado? Ou não ceder, porque afinal de contas eles também precisam aprender que as coisas não acontecem sempre exatamente como queremos?

Por aqui tentamos fazer um misto das duas coisas e os momentos em que eu decido não ceder tem se tornado cada vez mais difíceis. Um deles aconteceu ontem a noite entre eu e o Felipe. Eu estava muito cansada, querendo muito ir dormir. Sabe quando você deu uma cochilada no sofá, acorda super sonolenta e só quer escovar os dentes e colocar o pijama bem rápido para cair na cama o quanto antes? Eu estava exatamente assim, mas sabia que para mim o caminho seria mais longo, tinha ainda que fazer o leite com eles e sentar ao lado da caminha esperando que dormissem. Acabamos acostumando assim, pode não ser a forma ideal, mas quando se tem gêmeos de 2 anos e uma de 5 anos não é exatamente fácil seguir o ideal sempre.

Pois bem, voltando ao episódio noturno, deixei o Felipe colocar a água, colocar o leite, derramando um pouco de leite inclusive, e no momento de colocar a tampa a coisa explodiu……..Falei que eu colocaria daquela vez e ele começou o show. Deixei a mamadeira pronta sobre a mesa e disse que estava indo dormir, tentando ignorar o que ele estava fazendo, ele começou a gritar mais alto, se jogou no chão.

Eu estava profundamente irritada, mas estava conseguindo controlar, escovei os dentes, coloquei meu pijama, voltei para a sala e tentei dar a mamadeira a ele de novo, ele jogou no chão, gritei com ele dizendo que parasse com aquilo, mas não resolvia.

A partir daí começamos uma “queda de braço”, eu decidi que não ia ceder de forma alguma. Comecei gritar que as coisas não aconteciam sempre da forma que queremos, ameacei ir embora de casa na tentativa de fazê-lo parar. Vale ressaltar aqui, que não me orgulho em nada dessas minhas atitudes. Pelo contrário, pensando agora, com calma, sinto vergonha de como me comportei exatamente como ele (uma criança de 2 anos).

Por fim, depois de chorar muito, ele aceitou a mamadeira e começou a me chamar para sentar na cama dele.

A Julia já estava no quarto e o Vini também, Rafa estava lá com eles. Eu disse que aquele dia não sentaria na cama dele porque ele tinha me deixado muito triste (fiz isso na tentativa de puni-lo, outra coisa que não me orgulho, mas ainda estava muito irritada).

Até que chegou um momento em que me abaixei na altura dele, já na porta do quarto, e comecei a falar em um tom de voz mais normal (sem gritar), “filho, você está entendendo que não quero deitar lá porque estou triste com você?” e ele só chorou.


Vi as lágrimas fluindo dos pequenos olhinhos dele como uma cachoeira (lembrar disso agora traz lágrimas aos meus olhos).


A raiva que eu sentia se dissipou no mesmo segundo. Percebi o quanto ele estava sofrendo com a situação, e me dei conta de que ele não estava fazendo aquilo só para me irritar. No mesmo momento, o Vini grita lá de dentro do quarto “Eu tô bonzinho!” (eles pegaram essa mania, quando está rolando stress com um, o outro reforça de que “está bonzinho”, não sei a real motivação disso, se tiverem palpites, me ajudem!).

Então eu o abracei e fui para o quarto com ele. Felipe tomou a mamadeira soluçando e logo em seguida dormiu, exausto.

O meu sono sumiu e sobrou uma mãe arrependida, que ficou repetindo a cena mentalmente com um outro olhar, querendo voltar no tempo e fazer tudo diferente. Fiquei pesquisando sobre a fase de birras aos 2 anos e lendo coisas que eu já sabia, mas que simplesmente não consegui aplicar naquele dia: a criança não tem maturidade para lidar com as emoções, ajude-a a nomeá-las. Se você começar a se irritar muito, sugira que um parceiro assuma a situação se for possível. Não grite, fale normalmente.

Eu o abracei já dormindo, pedi desculpas e jurei que tentaria ser melhor no dia seguinte. Estou aqui escrevendo nesse dia seguinte. Ele acordou há pouco, veio aqui com o costumeiro sorriso, descansado e feliz. Dei um abraço apertado e agradeci a Deus o novo dia e a oportunidade que sempre temos de fazer melhor.

E foi em momentos como esse, que me batia uma imensa vontade de fazer diferente. Em que eu sentia que tinha que ter uma outra forma, tinha que ter algo que permitisse uma melhor interação entre nós. Foram momentos assim, que me levaram a conhecer temperamentos! Todo perrengue esconde um presente! Fale comigo e aprenda a amar o perrengue e procurar o presente escondido!

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Confiar requer coragem